Avançamos, mas há nuvens no horizonte

e51 300x186 Avançamos, mas há nuvens no horizonteAinda que se deixem de lado notícias acerca da área do clima, parecem cada vez mais inquietantes as novas análises sobre dramas que o mundo enfrentará nas próximas décadas. Pode-se começar pela própria Organização das Nações Unidas (ONU), que já não menciona apenas a previsão de que chegaremos a 9 bilhões de pessoas – 2 bilhões mais que hoje – em 2050; agora prevê 9,5 bilhões em 2075. E os relatórios acentuam que, embora 40% da humanidade viva abaixo da linha da pobreza (US$ 2 por dia), entre 30% e 50% dos alimentos produzidos (1,2 bilhão a 2 bilhões de toneladas) podem “ir parar no lixo”. De acordo com a organização Global Food, isso se deve a más práticas em transporte, armazenamento, compras desnecessárias, prazos de validade rigorosos. E implica desperdício de áreas para agricultura, água e energia.
Nos Estados Unidos e na Europa, onde as perdas são maiores, o desperdício vai a 50%. As consequências são especialmente graves no desperdício de 500 bilhões de metros cúbicos anuais de água – quando o mundo caminha para o uso de 13 trilhões de m3 /ano, muito mais que o consumo atual. E os usos são muito altos principalmente na produção de carnes. Segundo o jornal The Washington Post, uma família média norte-americana, de quatro pessoas, joga no lixo a cada ano US$ 2.227 em comida, um desperdício dez vezes maior que no Sudeste Asiático e o dobro do que desperdiçava nos anos 1970.
Na Europa o desperdício é ainda mais contraditório, visto que o crescimento da pobreza com a crise econômica nos últimos quatro anos já levou ao aumento do número de pobres para 120 milhões de pessoas – dados da Comissão Europeia. Na Espanha mais de 50% dos jovens estão desempregados, na Grécia são 21% da população abaixo do nível de pobreza.
Felizmente, no Brasil as notícias vinham caminhado na contramão dessas. As pessoas que vivem em extrema pobreza, com renda mensal per capita abaixo de R$ 70 mensais, e que representavam 5,3% da população em 2003, estão em 3,4% do total, com os programas de renda, Bolsa-Família, etc.; mas podem baixar para 0,8%, , segundo o Ipea e o Pnad/IBGE . Entre crianças e jovens até 15 anos a queda pode ser ainda maior, para 0,6%. Os investimentos só nessa faixa são de R$ 3,94 bilhões anuais, para atender 8,1 milhões de crianças e jovens. No programa Bolsa-Família, diz a ONG Contas Abertas, as aplicações já chegam a R$ 21,2 bilhões/ano, 15,3% mais que no ano anterior, para atender 13,9 milhões de famílias com renda per capita entre R$ 70 e R$ 140 ou que vivem em extrema pobreza (renda per capita até R$ 70). Só estas últimas incluem 16 milhões de pessoas. Mas temos também motivos para grande preocupação com a pobreza extrema e com o fato de cerca de 40 milhões de pessoas, ao todo, ainda dependerem das transferências de renda.
O cenário da renda real dos trabalhadores no Brasil tem melhorado, chegou em novembro à média de R$ 1.809,60 mensais, fora gratificações e 13.º salário, segundo o IBGE. E aumentou o número de postos formais de trabalho – mais 5,3% -, como aumentou em 2,7% a média salarial no País. Mas, alerta a Fundação Getúlio Vargas, o panorama pode ser mais difícil este ano. E ainda resta muito a resolver. Mais de 1 milhão de casas no Brasil não dispõem de energia elétrica, segundo a Aneel.
Como observou Roldão Arruda, houve avanços expressivos na comparação entre o consumo dos 10% mais ricos e dos 10% mais pobres no Brasil, observados os números do IBGE. Mas esses avanços não se devem aos programas sociais, e sim a fatores relacionados com os ganhos reais no salário mínimo e no próprio mercado de trabalho em geral. De qualquer forma, as regiões mais beneficiadas foram as mais ricas do País. E em 9 de 10 empregos novos a remuneração é inferior a três salários mínimos mensais. No quadro geral de ocupações, 50% dos trabalhadores não têm direitos trabalhistas nem à Previdência.
Os programas sociais são muito importantes, mas não chegam a alterar decisivamente as desigualdades. Seria necessária também uma reforma no campo tributário que reduzisse os impostos indiretos – que afetam todas as pessoas – e aumentasse os diretos, como o Imposto de Renda, para cobrar mais das maiores rendas.
E há novas nuvens no horizonte. Como relata Jamil Chade, o número de pessoas sem trabalho no Brasil aumentará em 500 mil e chegará este ano a 6,9 milhões. Em 2014 serão mais de 7 milhões. A taxa de desemprego (6,3% no final de 2012) será de 6,5% em 2013, prevê a Organização Internacional do Trabalho (OIT), para a qual, “depois de atingir os países ricos nos últimos anos, a crise agora chegará aos emergentes”. O desemprego subirá nos próximos cinco anos. É provável que as cifras brasileiras incluam pessoas que recebem Bolsa-Família. Mas são preocupantes.
Como observa José de Souza Martins, não podemos esquecer que os “aglomerados urbanos subnormais”, segundo o IBGE, ainda eram em 2010 nada menos que 323, nos 5.565 municípios, com 6% da população total do País; 88,6% deles estavam em 20 regiões metropolitanas; 49,8%, predominantemente em favelas, no Sudeste; um terço na Região Metropolitana de São Paulo – onde mais de 2 milhões de pessoas estão nesses aglomerados. Em Belém, 62,5% da população vive nessas condições. Na cidade de São Paulo, 500,6 mil famílias têm renda per capita até R$ 140 e, destas, 226,6 mil recebem Bolsa-Família. No Nordeste são 7 milhões de famílias.
É preciso, então, reconhecer que os programas sociais e de complementação de renda, que vêm desde antes dos governos FHC e Lula e se foram ampliando, têm tido uma atuação relevante, reduzido a pobreza extrema, melhorado as condições de vida das populações. Mas há muito ainda a fazer.

Washington Novaes é jornalista.
** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.
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