Embora a saudação represente o desejo mais profundo de que os próximos 365 dias sejam cobertos da mais completa felicidade, ela nos remete à 1999 a.c (segundo o calendário - fiscal- gregoriano), reino da Subornália , onde sua majestade, o rei Honoratus Daquiémeu I e sua arqui-rival, a sacerdotisa Sópramim , travaram vigorosos duelos na luta pelo poder e transformaram a capital, Propinae , no que se pode chamar atualmente, de marco da corrupção na história da humanidade.
Sópramim , adoradora da divindade Dáoudesce , espalhou pela região, onde a carência de água era absurda, diversos templos para arregimentar seguidores não no intuito de destronar o rei mas de montar uma espécie de governo paralelo, tecendo uma gigantesca teia na qual pessoas-chaves, de sua confiança, sCae mantinham estrategicamente colocadas, para a manutenção de seu domínio no parlamento e regular as atuações de Honoratus I que, revoltado com a situação, em atitude populista, mandou cavar o mais largo e profundo poço do país para a distribuição de água, nomeando sua esposa, a rainha Tánaaba , encarregada do cadastramento da população e seu filho, Honoratus Mamabem , responsável pela fabricação das cacimbas para o transporte do precioso líquido.
O povo, contente com a água em abundância, passou a reverenciar seu soberano que desfilava orgulhosamente pelas sacadas do palácio, despertando verdadeiro ódio na sacerdotisa.
Numa noite sinistra, Sópramim e sua camarilha despejaram baldes de um pó estranho no poço. Do dia seguinte em diante, toda a população começou a enlouquecer e Honoratus I se viu desesperado com a loucura inexplicável de seus súditos que, um à um, foram se juntando, se juntando e articularam um golpe para destituí-lo, tendo como pretexto, imaginem, a insanidade. Sem muitas alternativas, ele se refugiou na casa de uma de suas amantes, ficando lá até que a poeira assentasse. Enquanto isto, a sacerdotisa assumia o trono decretando feriado prolongado seguido de festividades intensas que culminavam com danças frenéticas. Todos estavam completamente ensandecidos.
Noutra noite sinistra (em Subornália noites assim são comuns), o rei, disfarçado, visitou o poço e bebeu, com fartura, dá água enfeitiçada e adormeceu ali mesmo.
Ao primeiro raio de sol despertou cercado por uma multidão que o observava. Arrancou as vestes e começou a pular e gritar em todas as direções. Andou plantando bananeira, de quatro feito um cão e se arrastou, tal qual uma serpente, em torno do poço. Todos então, alucinados, urraram seu nome, carregaram-no e o atiraram para cima diversas vezes, em êxtase. A igualdade, afinal, chegara. Tanto o rei quanto seu povo estavam verdadeiramente dementes. Como um grande líder, marchou até o palácio e, com o apoio popular, retomou seu trono, pondo em fuga a rival e deu por encerrado aquele cansativo ano. Em pronunciamento ao público, Honoratus Daquiémeu I , o Alienado, como ficou conhecido, agradeceu o apoio e desejou felicidades para o ano novo que acabara por ser iniciado.