Essa história teve o seu início por volta de 1945. Eu tinha 14 anos, mas me lembro como se fosse hoje. Morava e trabalhava na roça. Tinha um vizinho da mesma idade que era meu companheiro de fé. O apelido dele era Zé Galo, porque gostava de briga de galo. Nos fins de semana, nossos pais mandavam a gente vender verduras e frutas colhidas em nossas terras. Certo dia uma garota de nossa idade, filha da dona do melhor restaurante do arraial fez uma grande humilhação a ele. Ao oferecer suas mercadorias, a moça riu e disse que não possuía criação de porcos. Ele ficou muito envergonhado, pois havia muitas pessoas no restaurante e jurou vingança. Logo, a moça mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Com 18 anos eu fui para a cidade estudar e nunca mais vi nenhum dos dois. Após me formar, encontrei-me com Zé Galo. Parecia muito feliz. Possuía uma pequena fazenda. Convidou-me para tomar uma cerveja e recordar as histórias de nossa adolescência. Lá pela quarta ou quinta cerveja ele lembrou-se da humilhação sofrida no restaurante da Norma (nome fictício) e contou-me como foi que se vingou. A mãe de Norma comprou um bordel no Rio de Janeiro e ela acabou virando profissional no ramo. Era linda a Norma. Morena de olhos verdes, boa estatura, cabelos ondulados e extrovertida. Com o passar do tempo os jovens mudam muito a fisionomia. Tanto ele como a Norma ficaram diferentes e não dava para se reconhecerem à primeira vista. Norma e sua mãe ficaram bem de vida. O comércio da prostituição no Rio de Janeiro era muito rendoso, especialmente quando os marinheiros americanos passavam dias no Rio em treinamento e soltavam dólares a rodo no comércio. Zé Galo teve que ir ao Rio de Janeiro a negócio e pensou em procurar a Norma para se vingar de alguma forma. Disse que foi o mesmo que ganhar na loteria. Procurou uma prima de Norma que morava em Alvorada, distrito de Carangola, para saber se precisava mandar alguma coisa para ela. A moça disse que tinha sim uma encomenda. Norma havia lhe emprestado C$ 3.000,00 e pediu a Zé Galo para entregar o dinheiro e trazer a promissória. Zé Galo pegou o dinheiro e preparou sua mala. Colocou um terninho feito por costureira lá da roça, que era para impressionar sua desafeta. Assim que chegou ao Rio, preparou-se e foi para o endereço do bordel. Foi recebido pela secretária e disse que desejava falar com Norma. A secretária olhou bem para seu tipo e achou que ele não tinha cacife para ficar com Norma e perguntou: o senhor não quer outra mulher? Norma é a mulher mais cara do bordel! Quanto é? Perguntou Zé Galo! Ela disse que era mil reais por hora. Ele então disse: pois é ela mesmo que eu quero! Assim ele repetiu três noites, sempre pagando mil reais a cada programa. Norma ficou curiosa e perguntou: o senhor mora onde? Eu moro em Alvorada, distrito de Carangola. Que coincidência! Eu sou de lá. Você conhece a Tânia? Conheço. Ela até pediu que lhe entregasse 3.000,00 e levasse a promissória. Mais que depressa Norma entregou-a e perguntou pelo dinheiro. Zé Galo então respondeu: o dinheiro é esse que paguei para ficar com você nessas três noites, uai! Eu sou o Zé Galo que vendia verdura para você, lembra-se?
Membro da Academia Valadarense de Letras
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- Jairo Guedes Viana
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