St. Augustine, novembro/2007 – O Parlamento Europeu realiza nos dias 19 e 20 deste mês, em Bruxelas, a conferência "Além do PIB", o que constitui uma boa notícia. Desde a Cúpula da Terra do Rio de Janeiro, de 1992, quando 170 governos assinaram a Agenda 21, que acordou corrigir os erros na determinação do Produto Nacional Bruto (PNB) e de sua versão doméstica, o Produto Interno Bruto (PIB), organismos de estatísticas trabalham sobre esses efeitos. Quais são os defeitos do PNB em sua função de contabilizar as cifras do progresso nacional?
Em 
primeiro lugar, uma olhada para traz. O economista Simon Kuznets, que 
desenvolveu a medição do PIB, nunca o considerou um indicador global do 
progresso econômico das nações. "O bem-estar de um país dificilmente pode ser 
inferido de uma mediação da renda nacional", afirmou Kuznets no Congresso dos 
Estados Unidos em 1932. Este índice baseado no dinheiro começou a ser usado 
completamente durante a Segunda Guerra Mundial com um meio para medir a produção 
total de tanques, aviões, automóveis e todos os demais bens e serviços 
intercambiados em uma economia monetária nacional.
Atualmente, na maioria 
das economias desenvolvidas os serviços crescem mais rapidamente do que os bens 
e os estatísticos estão constantemente revisando os componentes do PIB. Mas, 
como o PIB apenas inclui a produção medida em dinheiro, estes indicadores omitem 
muitos custos sociais e ambientais, tal com as empresas. Os manuais de economia 
fazem referência a esses custos suportados pela sociedade e pelas futuras 
gerações como externalidades, ou sejam custos externos que podem ser omitidos 
dos balanços, assim com o do PIB.
Na década de 60 grupos cívicos de base 
começaram a notar os efeitos perversos deste enfoque. Por exemplo, se bens como 
as florestas não são avaliados pelo PIB, um país pode cortar toda sua floresta e 
registrar a venda de madeira como uma adição ao PIB sem anotar as perdas em 
lugar algum. Do mesmo modo, o PIB trata a educação como um custo, e não como um 
investimento da sociedade para formar cidadãos instruídos e 
produtivos.
Na década passada as companhias começaram a considerar os 
custos sociais e ambientais de sua produção, incorporando-os aos seus balanços, 
segundo um modelo agora usado por mais de 600 corporações mundiais. Porém, não 
se fez correções semelhantes no PIB. De acordo com os manuais econômicos, o PIB 
ainda dá um valor equivalente a zero a bens ecológicos vitais como ar limpo, a 
água e a biodiversidade, bem com tem em conta o trabalho remunerado (na criação 
dos filhos, na manutenção da casa e da família, o cuidado com os doentes e os 
idosos, os serviços voluntários, etc), que constituem uma grande parte de toda a 
produção.
Assim, desde a Cúpula da Terra, há um movimento para 
estabelecer indicadores de progresso e de qualidade de vida mais amplos. Muitas 
cidades agora possuem índices de sua qualidade de vida que vão além do dinheiro 
e de certos aspectos estritamente econômicos na consideração de numerosos 
setores, como saúde pública e custos ambientais.
Entretanto, os 
principais meios de comunicação ainda informa sobre o PIB sem considerar suas 
deficiências. Os macroeconomistas, os estatísticos e os acadêmicos no assunto. O 
que fazem é receber subvenções para pesquisas a fim de compilar dados sobre 
danos ambientais e custos sociais. Mas, em lugar de incluir tais custos nas 
contas do PIB, os mantêm separados como "contas satélites". Portanto, os meios 
de comunicação e o público pensam que essas cifras não são 
importantes.
Hoje em dia, tais custos são visíveis e aumentam o 
aquecimento global, a desertificação, os incêndios, as inundações, as secas e a 
destruição ambiental – de modo que os desafios do PIB chegam as agendas 
políticas ao longo de todo o mundo. Batalhas previsíveis eclodem entre os 
políticos e os grupos de interesse que se beneficiam com a noção de "progresso" 
do PIB atual e organizações das sociedades que suportam os custos e riscos de 
continuar com esse registro incompleto.
Entretanto, a maré está mudando. 
Talvez, depois da conferência do Parlamento Europeu, as 27naçoes da União 
Européia sejam as primeiras a adotar um novo PIB que possa integrar todos os 
fatores que influem sobre a qualidade de vida. Agora sabemos que, quando 
intencionalmente fechamos os olhos para todas essas "externalidades", cria-se 
bombas de tempo que cedo ou tarde explodem. (IPS/Envolverde)

  




























